quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Meat Is Murder (The Smiths, 1985)


Vou começar este post confessando uma parada muito louca de verão: nunca parei pra dar atenção aos Smiths. Sérião. Sempre vi gente idolatrando eles como se eles fossem geniais, pondo os moçoilos em pedestais tão altos, mas tão altos, que me dava preguiça só de pensar em escutar. Mas eis que o menino Yuri me desafiou a discorrer neste feriado sobre o segundo albinho de estúdio dos britânicos, “Meat Is Murder” – albinho esse que com o qual eu já tinha topado há uns anos, e já tinha ouvido alguma coisa (mas não lembrava, veja só), na época em que eu me interessava em, quem sabe, estar aí n’atividade com os corres da (cof, cof) militância vegetariana da vida... mas esta é uma outra estória (ainda bem).

Baixei o disquinho pensando que seria uma boa ouvir algo dos moços, já que sempre me senti meio que sem assunto quando alguém falava deles. Reza a lenda que este disco é “mais politizado” que o primeiro, “The Smiths”, mas isso não importa agora. Depois de ouvi-lo pelo menos uma três vezes em dois dias, consegui lembrar bem os motivos que me fizeram ficar longe dos Smiths esse tempo todo. O disco é totalmente anos oitenta, e seria lindo se não fosse tão terrivelmente melancólico, tão terrivelmente Legião Urbanesco - e não (me) importa quem influenciou quem neste caso, porque nenhum deles faz meu tipo -, além de ter momentos “vamos mandar a real pra deus e o mundo” que não me apetecem em nada. Coisas da vida.

The Headmaster Ritual, como cês devem estar bem ligadinhos, é uma crítica às escolas de Manchester e seus métodos duvidosos de ensino. Começa numa levadinha gostosa como um entardecer ensolarado com os amigos no auge da adolescência nos anos 80, tão delícia que nem parece crítica. Mas é. “I wanna go home / I don’t want to stay / give up education / as a bad mistake” é jogar verdades no ventilador sem deixar de lado o jeitinho cabisbaixo de ser que o povo tanto gosta. Vai saber.

Rusholme Ruffians começa e deixa eu ver se eu entendi as coisas: é uma música sobre feiras de diversão, mas com muita porrada e coisas não tão inocentes e bonitas e bacanas de acontecer. É isso mesmo? Morrissey fala de roubos, gente espancada, gente famosa, meninas com saias que sobem aos olhares atentos e gente que se apaixona por alguém, coisas que acontecem na última noite da tal feira – e que, apesar de voltar sozinho pra casa, sua fé no amor não é abalada. Que alegria, que bonito, que beleza, hein? Então toca I Want The One I Can’t Have, que é uma bonita canção sobre um amor que não se concretiza no aqui e agora, e sobre o cara não conseguir mais esconder o que está sentindo. E aí ele fala qualquer coisa sobre uma cama de casal e um alguém especial serem as únicas riquezas do pobre, e depois sobre um moleque que saiu do reformatório e bla bla bla. Uma contextualizada social que faz com que a musiquinha bonita se torne um emaranhado de coisas que nem precisavam estar ali. Mas aí vem What She Said, cuja letra é só triste mesmo. Ainda bem. A voz de Morrissey quase derrete aos ouvidos atentos quando ele pronuncia “what she saaaaid”. É uma pena que esta seja a segunda menor música do álbum, pois, pelo menos pra mim, uma das que mais ficou na cabeça.

A quinta faixa, That Joke Isn’t Funny Anymore, é puro muro das lamentações. “I just might die with a smile in my face after all”. Tristeza. Gente que é supostamente feliz rindo de quem é supostamente triste. Foi lançada como single depois do lançamento do álbum. E é isso.

How Soon Is Now? foi inclusa no material quando o mundo passou a aderir ao advento do disquinho compacto, vulgo CD. Por algum motivo, esta música cabô com todo o resto do disco pra mim – e isto é um elogio, ou uma tentativa de. Super cara de hit oitentista, desses que hoje a sua tia ouve num programa saudosista de rádio e começa a dançar a coreografia que a música ganhou nas baladas mundo afora, super empolgada. Quase se pode sentir cheiro de naftalina. O moço dos vocais canta: “I am the son and the heir / of a shyness that is criminally vulgar / I am the son and the heir / of nothing in particular”, e eu não posso deixar de pensar que isso é genial. Quase sete minutes de uma grande música. Mas Morrissey insiste que na vida nem tudo são flowers, e junta sua trupe para atacar meus ouvidos com Nowhere Fast - e, sei lá, mais uma vez a mistura de sentimentos com vontade de criticar as paradas e baixar as calças pra Rainha e pro mundo. Sobre isso não discorro. Mas devo confessar que “when I’m lying in my bed/ I think about life / and I think about death / and neither in particularly appeals to me” é o tipo de coisa que eu acho que eu deveria ter escrito antes. Hmpft.

Engraçado, as letras que aparentemente não tem nenhuma pretensão de criticar algo ou alguém são as que me soam mais sinceras neste disco. Well I Wonder, por exemplo, é uma belíssima canção. “Gasping, but somehow still alive / this is the fierce last stand of all I am / (…) please keep my in mind” é um grito de dor em meio à noite escura, uma espécie de ultimo pedido antes de virar as costas e dar o fora, e os ruídos de chuva caindo que encerram a faixa só aumentam a sensação de se estar indo embora sozinho e desconsolado. Pobres meninos, esses Smiths.

Tudo acabaria muito bem, se não fossem as duas últimas faixas do disco e suas pressões ideológicas/político-sociais e o diabo a quatro na terra do sol nascente. Barbarism Begins at Home fala sobre violência doméstica gratuita com as crianças. Tem uma levadinha bacana e é uma grande música, mas eu não pude deixar de achar engraçado ao associar involuntariamente os versos “a crack on the head...” com “beat on the brat with a baseball bat”, do Ramones, que no fim não tem nada a ver, mas acaba tendo. Pode parecer feio cantar sobre bater em crianças (e é – não façam isso com seus irmãos menores {nem com os maiores}!), mas eu ainda prefiro cantar o politicamente incorreto com os Ramones. Oh yeah, oh yeah, oh oh!

Finalmente! chegamos à última faixa, homônima do disco, em que o seu moço canta que “death with no reason is murder”, e eu teoricamente deveria ADORAR esta música por ser vegetariana, porque está tudo ali, todos os “argumentos” que a galera usa nas fotinho da interwebzz (que não existiam naquela época, vejam só), mas eu já ouvi tanto esse discurso que já me encheu o saco. Tentativa de persuasão ideológica por meio da sua obra é o golpe mais inteligente e mais baixo que um artista pode dar. Quer dizer, imaginemos quanta gente não parou de comer carne por causa desta musiquinha, coleguinhas! Reza a lenda que o Morrissey, que muito convenientemente era o principal compositor da parada toda, proibiu o resto da banda de aparecer comendo carne. Sabe qual é, né, galera, tem que jogar a verdade no ar, mas tem que sustentá-la também. Complicado. Quanto à música em si: não é ruim.

“Meat Is Muder” é um disco politizado? É. É um discos de críticas? É também. Há momentos, porém, em que parece que essas críticas todas são meio... forçadas? Não sei. Não é que música não possa ser política, muito pelo contrário – mas, pô, colocar guerra e amor e crises existenciais no mesmo balaio e querer que saia coisa bonita em todos os assuntos é, como diria meu tio, forçar a tanga. Fora que, pode ser ignorância minha, mas os caras parecem atirar pra todos os lados, querendo atingir a tudo e a todos no mesmo instante numa overdose de discursos que hoje soam meio pré-fabricados. Mas parece que a galera não pensava assim e continua achando o esquema bacana ainda hoje, já que o disco foi um puta sucesso no mundo todo e é tipo referência pra geral e todo mundo tá feliz, todo mundo quer dançar, todo mundo pede bis, mesmo sem saber bem do que o cara tá falando ali. Vai entender essa gurizada.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Neon Ballroom (Silverchair, 1999)


Semana passada, ao falar sobre bandas-geniais-que-perderam-a-fórmula-da-própria-genialidade-e-se-tornaram-bandas-terríveis-(segundo-os-fãs), citei o Silverchair como exemplo. Pois bem. Ao escrever sobre o Silverchair, lembrei de uma conversa que tive com um amigo há muito, muito tempo. Falávamos sobre música e bandas que conhecíamos, e eis que a banda dos mocinhos australianos entrou na roda. Naquela época, eu estava pirando neste disquinho que tentarei dissecar nas linhas abaixo, então perguntei ao coleguinha se Neon Ballroom poderia ser considerado um bom disco, na opinião dele, e obtive como resposta um: “ah, ruim não é, mas não é o Silverchair de verdade, né”.

Eu confesso que devo ter manipulado inconscientemente esse depoimento para que ele coubesse como exemplo introdutório neste post – vai saber o que se passa nas nossas cabeças, né -, mas não a ponto de fazer a declaração soar absurda. Já ouvi mesmo muita gente que ouvia o som deles dizer coisas nesse sentido – e não só deles (convenhamos que de gente chata pra acusar de traidor o mundo tá cheio) -. E aí me aproveito da ideia de mudança de som ao longo dos anos pra escrever esta postagem (não vou repetir as divagações, mas, a quem interessar possa, aqui estão elas).

Neon Ballroom é um disco com cara de velho e cheiro de mofo. Falar da “cara” do disco, aliás, é muito importante neste caso: toda a concepção do álbum é do guitarrista e vocalista Daniel Johns, e todas as letras do encarte se apresentam em formatos diferentes, sendo que cada música recebe uma foto ou montagem de fundo específica e condizente com seu conteúdo ou com algum de seus elementos. É bem verdade que algumas páginas parecem meio nonsense, mas nem sempre se pode acertar na vida, coleguinhas.

Mas vamos às vias de fato. A marotice toda começa com a angustiante Emotion Sickness, que já começa no susto e na qual os vocais são suaves, mas um tanto corrosivos. “GET UP GET UP GET UP!”, canta o mocinho das louras madeixas, soando feio e doentio, quase repulsivo – um apelo que tu provavelmente não querias ouvir. Mas a mão que apedreja é a mesma que afaga (ou o contrário), como diria o poeta, e o cantor doente se arrasta porta afora cantando seus cânceres emocionais numa mudança drástica de dinâmica - que obviamente vem depois do momento em que você certamente pensou que, FINALMENTE!, a música tinha acabado -. Em seis minutos de duração, a música dá uma prévia do que te espera até o final do disco, ou quase: recursos musicais até então inexplorados ou pouco explorados pela banda (tais como orquestra, coral e piano), variação de tensões, faixas cheias de altos e baixos e um Daniel Johns descobrindo que sua voz também pode ser um belíssimo instrumento.

A segunda faixa, Anthem For The Year 2000, soa quase ingênua (“never knew we were living in a world with a mind that could be so small”), mas sem deixar a doença emocional toda de lado (“we are the youth and we are knockin’ on death’s door”), óbvio - afinal, estamos falando de um disco gravado no auge dos problemas de saúde (em vários níveis) do principal compositor da banda, vamos dar um desconto. Anthem tem a participação das vozes juvenis do New South Wales Public School Singers and Friends, nos backing vocals - mas elas não tão perceptíveis assim, porque acabam sendo meio que atropeladas pela guitarra do moço nos versos do refrão. Ainda assim, dá um efeito bonito, mas nada extraordinário.

Reza a lenda que Ana's Song (Open Fire) foi escrita em homenagem à amada anorexia do loiro gatinho dos vocais. Não sei se isso é verdade, mas ela engana bem como canção de amor. De qualquer forma, sendo uma Ana, ouvir que “Ana wrecks your life like an anorexia life” só não é mais triste que ouvir algum babaca cantar a música do Los Hermanos toda vez que eu me apresento (“Ahh, Ana Júlia? Aquela da música?”). Mas seria mais original...

Spawn Again é a voadeira nos ouvidos de quem esperava algo meio down. “This is Animal Liberation”, canta Johns, e eu ainda acho que ele falava do demônio que vivia dentro dele e que sai vomitado do seu corpo magro nesta canção, PORQUE SÓ PODE. Curto, grosso e agressivo, como, teoricamente, teria que ser. No encarte, a imagem do macaco preso numa caixa de vidro com cara de profundo desespero, junto da letra, que foi desenhada de modo a formar um quadrado em torno da foto (e que, como no resto das letras, tem versos cortados e “versos fantasma” {estão lá, mas não existem na música de fato}) é capaz de te deixar meio desesperado também. A sensação, porém, é cortada logo depois da catarse, e dá espaço pra fofíssima Miss You Love, que, segundo fontes seguras (leia-se: meu tio), foi tema de um casalzinho desses aí que brigam-se-separam-e-voltam de uma novela nasantiga (esta). E tinha que ser mesmo: começa no pianinho, toda marota, e fala dum moleque que aprontou alguma pra sua amada (“remember today, I’ve no respect for you”) e agora quer voltar (“...and I miss you, love”), cheio das cretinice da vida, concluindo a estória com a seguinte frase: “I love the way you love, but I hate the way I’m supposed to love you back”. Ordinário, mas tããão bonitinho!

Dearest Helpless é uma música sedutora, meio canastrona (se é que existe o feminino deste termo). “I’m just the kind to bring you down”, ou seja: “eu posso estar no fundo do poço, mas ainda tenho meu olhar 43 e se você bobear, eu te arrasto junto, ouvinte lindo”. O álbum segue com Do You Feel The Same, Black Tangled Heart e Point Of View, que não são lá músicas inesquecíveis, mas têm seu valor. Sempre encarei Satin Sheets como o retorno do demônio do Johns, ou sei lá, uma tentativa de mostrar que, NÉ, GENTE, a gente mudou, mas ainda faz um som mais pesado, olha só. E fazem bem. Ou faziam? Enfim.

Paint Pastel Princess começa numa levadinha gostosa, toda montada na orquestra de fundo, e é bem difícil não se pegar cantarolando depois “but it’s a-all the same to me”, frase cretina que fica ecoando na cabeça. Temos, enfim, Steam Will Rise, a décima segunda e última faixa do disco, cujo refrão surge de um jogo de palavras: “esteem will rise / steam will rise”, e soa como um alívio, um reconhecimento do próprio estado, um “eu-sei-que-eu-tô-mal-e-eu-não-aguento-mais-esconder-isso”. Dizem por aí que depois da tormenta vem a bonança. Não sei se isso realmente funciona, mas a impressão que eu tenho sempre que ouço este disco é que, nesta última faixa, toda a lamentação sangrenta do disco se esvai até virar uma lembrança distante e confusa. Coisas da vida.

Pra concluir o causo, arrisco dizer que Neon Ballroom não é apenas um disco; Neon Ballroom é uma sincera, bonita e concisa obra audiovisual que marcou um ponto de inúmeras transições - na vida de cada um deles, na mudança de direção musical da banda (e, consequentemente, na renovação do "público-alvo"), na virada do século... -, cheia da melancolia remanescente dos anos pós-grunge, do jeitinho que a gente gosta.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Spell To The Death Of Man (Woe, 2008)


Quando se fala de black metal americano, muitos narizes se torcem. Uns argumentam que essa forma de expressão extrema só pode surgir em países europeus, por causa dos fortes laços nacionalistas que muitas bandas mantém.
A verdade é que o black metal americano, ou seu acrônimo em inglês, USBM, é uma classificação vazia, pois nos EUA existem bandas que praticam todas as formas do sub-gênero, do mais cru ao sinfônico, passando pelo atmosférico e por todas as suas amálgamas com outras vertentes extremas, como o death e o doom metal. Mas provavelmente o maior triunfo dessa "cena" é a experimentação e a utilização de elementos de alguns outros gêneros fora do metal.

"A Spell For The Death Of Man". Já no primeiro álbum, a banda Woe já nos brinda com um dos nomes mais belos e coerentes que já vi em um LP. O feitiço do titulo, na realidade, é mais uma comemoração do ódio pela humanidade do que qualquer outra coisa, pois a banda exibe suas melhores melodias se intercalando com momentos como na faixa "I see no civilization", quando o multi-instrumentista Chris Crigg (que compôs e realizou todo o álbum sozinho - um feito fantástico, tendo em vista o quanto o som é dinâmico e esmagador, não parecendo em nada com as outras "one-man bands “ que eu conheço) grita o titulo da canção logo antes de uma linha de guitarra absurdamente grudenta.

Depois da épica abertura , "Solitude", que começa com notas melancólicas e que em um dado momento explode em pura furia, "A Spell..." não se torna repetitivo em momento algum. Riffs que poderiam ter saído facilmente de álbuns de black metal do inicio dos anos 90 se misturam com algumas sensibilidades do hardcore e do crust punk, mas nada muito aparente, já que o próprio black metal carrega uma herança do punk rock. A produção é limpa para o gênero, com bastante ênfase na bateria, que parece ser o instrumento dominante do músico, tamanha a furia que ele demonstra nas baquetas (coisa que me lembra outro projeto solo americano de black metal, Panopticon - mas aqui as baterias não estão em primeiríssimo plano como nesta).

Diferentemente da maioria das bandas de black metal, as letras de Chris são mais pessoais, deixando ainda mais aparente influencias externas ao gênero. A faixa "Condemned As Prey" começa com o som de guitarras e gritos, que dizem "Sorrow chokes the air and fills the lungs with such noxious fumes", brilhantemente mostrando o clima angustiante, ansioso e rancoroso da obra, mas não exatamente pessimista, numa letra que fala sobre a onipresença da tristeza no mundo, e como devemos ver isso com bons olhos, pois, segundo a letra (e parafraseando), "a serenidade é uma ameaça que nos lança sobre verdades rasas". O álbum, por inteiro, é uma ode ao desapontamento com a humanidade.

Desde as primeiras ouvidas, "A Spell To The Death Of Man" já se tornou um dos meus álbuns favoritos no gênero, pois é um daqueles registros que são tão bem construídos, cada musica com uma identidade bem dilapidada, e que nos faz descobrir algo novo sempre que ouvimos, mesmo não sendo complexo. E, acima de tudo, é profundamente honesto. É de uma franqueza que me causa uma sensação estranhamente calorosa no peito, é como aquele amigo que acena com a cabeça em concordância com aquele seu comentário de teor misantropo, quase ingênuo. Gosto especialmente de ouvi-lo em viagens de transporte público, porque é quase como se eu ... não visse civilização.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

This Is Us (Backstreet Boys, 2009)


Baixei. Abri. Dei play.

1) Straight Through My Heart - Não me parece nem um pouco pior do que eles faziam anteriormente. O refrão é até que..... grudento. Mas isso não é nenhuma qualidade.

2) Bigger - Começamos a adentrar o reino da retardadice, com "lalalala"s distribuídos na música. A porcaria inteira tem letra, custava escrever qualquer baboseira no lugar disso? Muito me agrada só duas músicas chegarem aos 4 minutos. Isso vai acabar logo.

3) Bye Bye Love - Começa com batidas eletrônicas, como a primeira música. As batidas são todas parecidas. O refrão dessa aqui parece alguma coisa do Akon ou de qualquer um desses imprestáveis. Acho que tem até uns auto-tunes bem descarados. A letra é sobre um cara que só é usado. COMO SE HOMENS RECLAMASSEM DE SEREM USADOS.

4) All Your Life (You Need Love) - O refrão é quase que exatamente na mesma batida da música anterior. E cadê os violões que eu lembro deles terem nas baladas deles dos anos 90?

5) If I Knew Then - Mais uma da série "we wanna be black". E a letra, deixa eu ver se eu entendi... é sobre alguém que, se soubesse sei lá o que, não teria largado a mulher e...

6) This Is Us (nesse ponto, as musicas já passam tão rápido e são tão medíocres que eu nem tenho tempo de pegar algo pra comentar). E eu queria ter tido algo para comentar sobre a faixa-titulo.

7) PDA (Public Display Of Affection) - Eu tive que pensar por 10 segundos pra acreditar que esse era mesmo o nome da canção. O refrão é "I want your PDA". Os caras visivelmente nem estão tentando mais. Tem a frase mais hetero do album ("kissing and touching with my hands in your booty").

8) Masquerade - Parece alguma de encher linguiça do álbum da Lady Gaga. E é isso.

9) She's a Dream - Bagulho já virou bagunça. O refrão é constrangedor, metade das letras são "uhhhh", a batida é a mesma da faixa 3, ou 5, ou a próxima (que ainda não ouvi, mas se formos percebendo os padrões, devo estar certo). A letra é incrivelmente idiótica, nivel Akon (o novo ídolo deles, aparentemente).

10) Shattered - Até que enfim uma composição decente. Como todas as músicas desse álbum são só um refrão gigante, ao menos essa varia um pouco, e a melodia é mais agradável (e me lembra o que eles faziam no passado).

11) Undone - (chegaram pessoas aqui em casa, e estou mais constrangido do que se me pagassem assistindo pornô). Agora é uma parada meio Justin Timberlake: todo mundo cantando meio sussurrado, com uma batida meio "SEXY", no pior sentido dissaí. Termina com um tecladinho que vai "sumindo", todo misterioso. Tá bom, então.

12) Helpless - Acontece que vi que agora tô ouvindo a ultima faixa, a genialmente batizada "International LUV", então ali na "11" era para ser a "Helpless", e a "Undone" eu devo ter não prestado atenção/ não vi quando começou e terminou. Faço questão de deixar a confusão como tá pra enfatizar o quanto esse álbum não vale meia garrafa de Coca-Cola sem gás.

Aliás, sobre essa música: é ruim.

Sabe, eu lembro de sentar na frente da TV nos anos 90, que nem um saco de bosta, comendo bisnagas com requeijão e tomando refrigerante depois do colégio. As vezes passavam uns clipes desses senhores, e confesso que não era de todo mal; fui inclusve olhar alguns clipes antigos (Eu Quero Isso DAQUELE Jeito, Todo Mundo e suas releituras metrossexuais dos monstros clássicos da Universal, e Formato Do Meu S2) e todas as músicas me pareceram bem melhores que esse lixo que ouvi agora. Todas menos cínicas, mais inocentemente jovens, e não pareciam querer surfar no sucesso de nada. Eram construídas usando mais instrumentos DE VERDADE e menos bip-bips.

Mas eu acho que esses rapazes gastaram muito dinheiro com dildos e cocaína, e na eminência de algumas contas pra pagar, resolveram gravar isso daí. Acho que até eles tiveram consciência do quanto esse álbum é insosso, e terminaram com o grupo de uma vez.

Sobrevivi.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Sense Of Purpose (In Flames, 2008)



Coleguinhas hiperssonóricos do meu Brasil, o assunto de hoje é o seguintch: bandas terrivelmente geniais que esqueceram a fórmula da própria genialidade musical e se tornaram apenas bandas terríveis. Exemplos? O Guns N’Roses e um Axl gordo-feio-bobo-beberrão (porque, NÉ, GENTE, “foi só ele que sobrou do GUNS DE VERDADE”), Silverchair (opa, alguém além desta que vos escreve lembra deles/ainda ouve algo deles/ainda ouve falar deles?) e o processo “deixamos-de-ser-apenas-guris-e-viramos-homens-(terrivelmente-bonitos)-com-barba-na-cara-e-tudo-e-abandonamos-nosso-lado-‘olha-eles-parecem—tanto-com-o-Nirvana’” e o In Flames, que é pra entrar no assunto logo. Bandas terrivelmente geniais que esqueceram a fórmula da própria genialidade musical e se tornaram apenas bandas terríveis. TERRÍVEIS. Pros fãs.

Desde a primeira faixa, The Mirror’s Truth (e este clipe maroto), pude entender o que o Alexandre (vulgo Xenochrist) quis dizer ao me desafiar – “é uma banda que já foi mais extrema, hoje é só um ‘rock alternativo’ com uns gritinhos” – mas devo dizer que isso não é de todo ruim. Aliás, particularmente, não acho mesmo ruim, então tudo ocorreu bem nesta primeira audição. Ao me deparar com esta primeira faixa, tive certeza de estar ouvindo uma banda destas aí que a gente ouve e nem diferencia mais, mas eu não ouço muito metal, vai que quem não sabe diferenciar mesmo sou eu, né. Prossegui na audição.

Então Disconnected, a segunda faixa, começa a tocar, e é bem difícil não ficar com os versos na cabeça: “you receive what you give / and this is like nothing / I feel like shit / but at least I feel something”. Devo que confessar que já neste momento eu passei a gostar do álbum, e não entendi bem o porquê de ele ser considerado “o pior”.

O disco segue com as faixas Sleepless Again, cuja letra me deixou um tanto aflita (“I need to easy my mind / and kill what burns inside”), o single bacaninha Alias, seguido de I’m The Highway, o outro single Delight and Angers,e as faixas que continuam na tal da linha “traímos nosso próprio movimento, véio”, Move Through Me, The Chosen Pessimist (que tem umas partes bem melódicas e bonitas que meio que soam como um respiro da ideia ‘guitarras e gritinhos’), Sober and Irrelevant, Condemned, Drenched in Fear e a décima segunda e última,March to the Shore.

Mas eis que, curiosa, eu decido buscar ouvir algo dasantigas, só por constagem, e ó...! Entende-se a indignação que o moço demonstrou ao me falar do álbum (“É o pior álbum de uma banda que já foi a minha favorita”). Porque, bom, não só notável, mas GRITANTE (e isso não foi uma tentativa de trocadilho, mas desculpaí mesmo assim, galere) é a diferença deste In Flames para este In Flames.

O que se pode notar é que o som mudou mesmo, e muito. Mas aí vem a pergunta: será mesmo que seria bacana se os caras insistissem no mesmo tipo de som de quando começaram, lá nos anos 90? Quer dizer, será que uma banda que TÁ AÍ NA ATIVIDADE não tem o direito de variar um pouco, buscar novos recursos, novas fontes, novas sonoridades? Porque, gente, as coisas mudam, a vida muda, as pessoas mudam, e não dá pra exigir que, numa banda que já trocou de integrantes algumas boas vezes como o In Flames, o som feito continue seguindo a mesma linha. Ou dá? Sei lá, acho que a galera viaja em achar que porque é fã da parada feita de um jeito, a parada não pode mudar, é assim e pronto, cabô. Sem chance. A gente acaba esquecendo que a gente também muda, e o mundo bem ali fora também vira outro a cada instante, então não dá pra pensar que existe só uma maneira pra um bom resultado. Os moços devem mesmo ter partido muitos coraçõezinhos de fãs ao redor do mundo - o que deve ter sido uma pena, é verdade –, mas devem ter conquistado tantos outros por aí, que olha, acho que compensa, hein. Até porque o que foi feito já tá feito, se você não gostar do esquema daqui pra frente é só parar de ouvir, amiguinho. Pra quem ouve é bem mais fácil trocar o disquinho, mas os caras precisam sobreviver aí entre o que está surgindo, e pra isso precisam se renovar a cada momento. Ou será que eu to divagando e pirando demais? De qualquer forma, posso confessar uma coisa? Eu gostei do álbum. Sérião. Acho, inclusive, que A Sense Of Purpose é um daqueles álbuns que, se você é fã dasantigas e deixar de viadice – ou ouvi-lo de desafiado/desocupado-com-internet/aleatório que é, no meu caso -, vai acabar gostando mais dele a cada audição. É só abrir seu coraçãozinho pro novo (ui!). Fica a dica aí, gente.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

In The Eyes Of God (Today Is The Day, 1999)


Existem bandas que ouvimos em algum ponto de nossas vidas e esquecemos de sua existência. Algumas esquecemos porque eram realmente dispensáveis, e outras porque estamos soterrados de descobertas por todos os lados, e o cérebro simplesmente não dá conta de catalogar tudo. Today Is The Day faz parte do segundo grupo. É uma banda que ouvi há muito tempo, e que me agradou pela atmosfera quase "noise" e abrasiva, mas que provavelmente não ficou gravada em minhas sinapses porque eu estava mais preocupado procurando coisas por gêneros. E se tem algo que não podemos fazer é colocar essa banda em um.

O som desses doentes do Tennessee aponta para várias direções ao mesmo tempo, sendo que a única saída que se encontra, geralmente, é chama-los de "rock alternativo"; mas prefiro deixa-los sem classificação do que correr o risco de traçar um paralelo entre eles e, sei lá, 30 Seconds To Mars. Influencias de metal extremo são especialmente perceptíveis, principalmente do death metal, e a atmosfera é comparável ao mais aterrador álbum de black metal, mas sem parecer ter influencias do sub-gênero. O principal pilar parece ser aqui o grindcore mais rítmico e lento, sem tantas explosões de blast beats (que estão no álbum, mas são raríssimos), usando bastante viradas de bumbo, e as vezes tudo soa até mesmo quase ritualístico(não é a toa que o álbum feche com o que parece ser o som de uma cerimonia indígena).

O interessante do álbum é que ele sustenta sua atmosfera sufocante invocando elementos que remetem a psicose de forma geral. Os vocais, por exemplo, são num tom quase infantil, com muita reverberação, mas ainda soam essencialmente maléficos, lembrando muito algumas passagens de alguns projetos pós-Faith No More do Mike Patton, como Tomahawk, Fantomas e, principalmente, sua performance no EP com o Dillinger Escape Plan. As musicas passam, ao mesmo tempo, uma sensação de ser uma só grande canção, dividida em atos, mas ainda assim é absolutamente desconexo, com musicas terminando no meio de riffs, sem aparente resolução. Para fechar, diversas musicas começam com samples que parecem todas falar de estados alterados de consciência ou de distúrbios psicológicos.

"In The Eyes Of God" é um uma besta sem forma que te absorve, para o melhor ou para o pior (como sugere o sample da primeira faixa, que claramente fala de Charles Manson). Me resta agora mergulhar no resto dos álbuns desse projeto, rumo ao abismo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bricks Are Heavy (L7, 1992)



Estive fora durante a última semana, num entre-cidades sem acesso à internet, sinal fraco no celular e sem muitas opções de divertimento. Fui a trabalho, lógico, até pois não curto mosquitos me picando loucamente, cidades em que tudo já está fechado às oito da noite e çasparadas todas aí. De qualquer forma, entre uma respirada e outra, fiquei pensando no que ia resenhar por aqui quando chegasse, mas estava completamente sem ideias. Notei que sempre que eu colocava meus fones, eu recorria a alguns álbuns específicos, dentre eles, esse lindo. Bricks Are Heavytinha que aparecer por aqui algum dia, e esse dia é hoje, coleguinhas.

Não escolhi o álbum porque ele é considerado um (ou talvez o grande) clássico do L7, porque Pretend We're Dead é uma música cretinamente incrível ou porque Shitlist toca no filme Natural Born Killers. Escolhi este álbum para a resenha de hoje simplesmente porque ele é um trabalho bonito, bem feito e recheado de músicas deliciosamente agressivas e maliciosamente...‘perigosas’ - e porque é um dos meus álbuns mais ouvidos do momento (contente-se com a realidade, caro leitor).

A belezinha de disco começa com Wargasm, e é praticamente impossível não se sentir meio hipnotizado pelas guitarras desde o início. Donita Sparks canta como uma guria que não leva desaforo pra casa, fazendo gurias como eu perceberem que não importa o quão durona (sempre odiei esse termo, mas...) você pareça ser, a sua voz sempre será meio viadinha – porque nem tudo nesta vida são flowers, minhas jovens. Desculpaê, gente.

Segue-se com Scrap e com a genial Pretend We're Dead, que desde a primeira audição me soou como um hit daqueles nostálgicos duma causa não tão impossível, nem ainda perdida. Me pergunto: será mesmo? Mas bem, não é esta a questão.

O lance é que todas as músicas deste álbum te levam a uma viagem de garotas furiosas, com toda a vontade/necessidade e todo o direito de levantar a voz, empunhando guitarras pesadas e batidas que te trazem novamente aquela ânsia pré-adolescente de tocar bateria com tanta força e vontade a ponto de pôr o pâncreas pra fora. E pela boca. Uh.

De mais a mais, temos ainda músicas como Everglade, One More Thing e a décima primeira e última, This Ain't Pleasure, que te deixam com aquela sensação de "mano, põe a parada pra tocar de novo, POR FAVOR". As faixas variam entre a sensação de nostalgia dos deixados-pra-trás anos 90 - coturnos velhos, surrados e sujos de areia e camisas de flanela no calor da Califórnia (ou do Brasil, no nosso caso) -, provocações de jovens garotas que dão mais valor ao cérebro que aos traseiros - e por isso mesmo provocam -, alfinetadas em questões políticas e nos olhos de quem se sentir ofendido. L7 é poderoso, agressivo e sexy, por mais clichê e babaca e discurso-de-crítico-musical-meia-boca que isso possa parecer.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Public Castration Is a Good Idea (Swans, 1986)

Alô moça, eu te tirei no desafio dessa semana. Você já ouviu algo do Swans? O álbum que escolhi pra você é o Public Castration Is a Good Idea, É PRA OUVIR BEM ALTO TÁ!



Eu nunca tinha escutado nada do Swans, e agora não sei se devo agradecer ao senhor Danilo por me desafiar com algo deles - e assim me fazer ouvi-los pela primeira vez - ou, pelo mesmo motivo, virar a cara, bloqueá-lo nas redes sociais da vida, atravessar a rua quando vê-lo vindo na minha direção. Sacanagem issaê.

“Public Castration Is a Good Idea” é um álbum...estranho. Gravado ao vivo, a sensação geral da nação é de que os moços queriam mesmo era zoar um pouquinho com teus ouvidos – o que não é necessariamente ruim. O que me deixou curiosa foi que o mesmo álbum me provocou o mais intenso dos tédios e a mais louca das viagens. Como pode isso?

O disquinho começa com Money Is Flesh, que vai muito bem até o início da linha vocal, que mais parece os gritos de um demônio encarcerado num porão medieval a espera do julgamento, ou da execução pública (gente, desculpa, eu pirei muito nesta música).

A castração é lenta, repetitiva e oscila entre uns momentos de vocais arrastados e outros de percussões lôcas que parecem anunciar um esquema ritualístico dos grandes. A Hanging segue bem nesta linha, e me agradou bastante (o que me causou certa surpresa, mas esta é a vida, coleguinhas). Money Is Flesh, depois de me suscitar a imagem do demônio descrita mais acima, obviamente também está dentre as que eu mais curti, junto também de Another You, a oitava e última faixa, que me soou muito fim de show (talvez por isso eu tenha gostado tanto, hah). De resto, nada de muito novo no Front.

Foi difícil ouvir? Foi complicado? Doeu? Perdi coleguinhas por citar o nome do álbum que estava ouvindo? Não (mas seria justificável, hein). Mas também não é um disco que entra na minha lista de agradáveis – até pois essa certamente não era a pretensão -, nem de preferidos, mas não se encaixa também dentre os banidos-pra-toda-a-vida. Opinião dividida sobre um disco que me causou sensações duplas. Um disco estranho, afinal.

PS.: Escute o Danilo e OUÇA BEM ALTO, TÁ? Caso contrário o esquema não surte o mesmo efeito. Juro.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Noregs Vaapen (Taake, 2011)


É engraçada essa conversa sobre "maturidade musical" de uma banda. Num mundo onde os trabalhos mais reverenciados de um grupo geralmente são os primeiros, é muito natural ver esse termo ser jogado para se justificar uma total covardia intelectual de uma banda, fazendo essa covardia ser vista como uma espécie de evolução. Quando eu digo "covardia", eu me refiro ao fato da banda não estar maturando de verdade, e sim apenas misturando elementos que fizeram as pessoas notarem ela primeiramente, com conceitos novos, geralmente medíocres, com o intuito de agregar uma nova parcela a sua base de fãs.

O que me leva ao novo álbum do Taake, "Noregs Vaapen". Primeiro é necessário lembrar que a banda, apesar de contar apoio de diversos musicos, é projeto de uma mente principal, o vocalista Hoest. O primeiro, de 1999, "Nattestid Ser Porten Vid", já mostrava a grande inspiração no black metal com influencia folk, certamente calcado no caminho iniciado pelo Ulver no inicio dos anos 90 ( e poderia ser facilmente acusado de ser clone de algum trabalho inicial desta), com pequenas injeções de thrash metal. Os dois álbuns seguintes, "Over Bjoergvin Graater Himmerik", de 2002, e o grande "Hordalands Doedskvad", de 2005, já mostravam uma intromissão muito maior e mais bem definida dos elementos de thrash, fazendo essas duas obras soarem muito semelhantes ao som que o Immortal fazia na metade da carreira, como "Sons Of Northern Darkness" e "At The Heart Of The Winter".

É aí que entra o álbum homônimo, de 2008. Contrariando totalmente a lógica seguida até então, Hoest decide voltar 15 anos no tempo, e faz um disco que se inclina muito mais ao black metal tradicional norueguês dos medalhões do gênero. Há um maior enfoque nos riffs mais "frios" em oposição às passagens "orgulhosas" e épicas usadas até então. Mas, aparentemente, isso tudo é porque "Taake" faz parte de uma nova trilogia, e pensando dessa forma, "Noregs Vaapen" faz perfeito sentido. Por quê?

Neste LP, vemos um Taake... (preparados?)... mais maduro, mas no sentido do termo que eu acho muito mais intelectualmente honesto, já que é a banda experimentando novas sonoridades, e utilizando características do som antigo apenas para evoluir a composição de um ponto ao outro. O som mais tradicional é misturado a uma tendência mais relacionada ao black metal "ambiente", com riffs mais repetitivos, porém bem construídos, que vão e voltam durante a musica. Isso é facilmente observável durante a faixa de abertura, "Fra vadested til vaandesmed", cujo riff principal constitui a maior parte da musica. O álbum vai constantemente crescendo e mostrando novas influências. As melodias são bem mais melancólicas do que de costume, lembrando bastante o tipo de black metal feito na Finlândia, por bandas como Arckanum e Sergeist, hipnóticas e com uma natureza predominantemente romântica. As passagens mais orientadas ao folk retornam, mas nunca gratuitamente.

Cada faixa reserva uma surpresa, como o instrumento (que vou manter em segredo para não estragar a surpresa) que aparece na metade da quinta faixa, "Myr", e na minha faixa preferida, "Helvetesmakt", que progride de riffs que poderiam ter saído de alguma música do Darkthrone até um clímax quase transcendente, com várias camadas de vozes (segue link desta mais abaixo).

"Noregs Vaapen" é o visível ponto central de uma nova trilogia tramada por Hoest, afinal, deixa brechas suficientes para qualquer uma das direções supostas, mas o faz sem abrir mão da própria integridade da banda, que mesmo sem experimentações extremas, vai sempre parecer pra mim como uma das bandas de black metal com o espírito mais livre. Ouça-o depois do anterior, “Taake”, de 2008, para entender melhor.

Helvetesmakt: http://www.youtube.com/watch?v=354M8gQ0_NI

Meu top 5 Taake:

1 - Hordalands Doedskvad
2 - Noregs Vaapen
3 - Over Bjoergvin Graater Himmerik
4 - Nattestid Ser Porten Vid
5 – Taake

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Punx (Guizado, 2008)


Imagine a cena: um belo dia de sol, um lindo céu azul & você deitado no sofá da sala num tédio infinito, olhando pro teto e ouvindo o barulho da cidade que acontece lá fora. Adicione à mistura uma pequena porção de tarefas cotidianas do jovem estudante que mora só e uma dose generosa da procrastinação nossa de cada dia.

Num dia parecido com esse - mas com menos glamour do que a escrita faz parecer que ele teve - a personagem da cena era eu, e eu procurava por alguma coisa que pudesse preencher o meu vazio existencial do dia (ou que me ajudasse a ter um bom motivo pra continuar deixando tudo pra resolver depois, o que viesse primeiro). Numa pesquisa despretensiosa e sem muito critério, ou com critérios um tanto duvidosos – “que foto maneira, olha só, deve ser bom o som deles” ou “que nome genial o desta banda, bah” -, eu cheguei à página do Guizado no Last.fm.

Confesso que, mesmo achando o texto sobre ele genial (sim, eu leio os textos de lá sobre os artistas {ok, nem todos}), não pesquisei mais muita coisa. Falha minha? Deveria ter pesquisado mais? Não sei. Só sei que de uns tempos pra cá o que eu menos gosto de fazer quando vou conhecer uma música/um álbum/um artista/uma banda é ler muito a respeito - e aí eu dou um tapa na própria mão por estar escrevendo justamente sobre música -, até porque acho que a maravilha da vida conectada à internerdz é que tu podes ter acesso a qualquer coisa e ir selecionando os conteúdos que te atraem e os que tu queres passar longe. Enfim.

Coloquei o disquinho pra baixar e criei coragem pra fazer as atividades que a vida me impôs praquele dia, já abrindo espaço entre os goles de café da noite para este “Punx”, ansiosa para saber se tinha caído numa cilada musical ou se o bagulho era dos bons mesmo.

A decisão de escutá-lo à noite foi mais do que acertada: a marotice deste álbum PERTENCE às estrelas. Confesso que o lance de não ter vocais me deixou inicialmente meio nervosa, mas ao longo já da primeira faixa, “Vermelho”, a gente descobre que o bonito deste disco é que ele fala muito sem precisar verbalizar nada.

A sensação que eu tive foi a de estar num longo passeio noturno pelas ruas de uma grande cidade – as luzes, os carros, o silêncio dos edifícios comerciais, a TV ligada no 503 do prédio da esquina, os bêbados, os maus-elementos, os operários acordando pra pegar o metrô, as prostitutas, cansadas, se insinuando já sem muita vontade, e eu (ou você), com os fones de ouvido, percebendo o quão sufocante pode ser viver nesta “solidão coletiva”, indo e vindo sem saber exatamente para onde ou o porquê, mas apenas seguindo porque, em algum momento, alguém disse que tem que ser assim. São onze faixas que parecem completamente embebidas em poluição e fumaça das fábricas e eletricidade e tudoçascoisaí que a vida apresenta pra gente diariamente nestes pós-modernos anos dois mil e tantos, e todas elas sugerem movimento, um caminhar sem necessariamente precisar de uma direção certa, uma redescoberta do mundo externo diretamente ligada ao mundo interno, pessoal e intransferível de cada um. A paisagem cimentada surge na tua mente já no início e te acompanha até o minuto final, bem como a sensação de que é sempre noite, no sentido mais...desprotegido(?) que a palavra pode te proporcionar.

Mas ei, “Punx” não bebe apenas nas fontes da melancolia insone. O curioso, para mim, é que ele soa como se um amigo muito próximo sentasse conosco para contar sobre seus medos, dores e angústias, mas também sobre as delícias de se viver tão só e poder observar tudo o que acontece ao seu redor de tão perto, mas de tão longe, por mais clichê que isso possa parecer – e o mais bacaninha é que o trabalho do moço não soa como um momento de revolta de um membro do proletariado, nem como um playboyzinho qualquer que flerta com o gueto e se acha um cara sinistro. “Punx” me parece um convite aos pensamentos e sensações de um jovem que se sente só mesmo estando entre muitos, que vê beleza no fluxo rotineiro das coisas, mas que prefere observar a ser parte daquilo tudo, que passeia por todos os campos, mas ainda não encontrou sua casa.

Eu poderia falar que o disco tem forte a presença da música eletrônica, ou sobre as influências do hip hop ou duns batuques afros quase visíveis, ou do sopro jazzístico que as faixas exibem, porque está tudo ali, num recorte e colagem original e sincero que não desmerece nenhuma das influências citadas - mas eu realmente não penso que seja este o ponto, coleguinhas. "Punx" é, acima de tudo, um disco de sensações e incertezas. Guilherme Mendonça, o Guizado, cede um pouco das suas divagações noturnas e te proporciona uma viagem pra dentro das tuas próprias dúvidas e fraquezas, e é nisso que eu acredito que se pode encontrar a sua preciosidade enquanto obra musical. Um disco pra se ouvir só, de olhos fechados e à luz da lua.

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