quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A Spell To The Death Of Man (Woe, 2008)


Quando se fala de black metal americano, muitos narizes se torcem. Uns argumentam que essa forma de expressão extrema só pode surgir em países europeus, por causa dos fortes laços nacionalistas que muitas bandas mantém.
A verdade é que o black metal americano, ou seu acrônimo em inglês, USBM, é uma classificação vazia, pois nos EUA existem bandas que praticam todas as formas do sub-gênero, do mais cru ao sinfônico, passando pelo atmosférico e por todas as suas amálgamas com outras vertentes extremas, como o death e o doom metal. Mas provavelmente o maior triunfo dessa "cena" é a experimentação e a utilização de elementos de alguns outros gêneros fora do metal.

"A Spell For The Death Of Man". Já no primeiro álbum, a banda Woe já nos brinda com um dos nomes mais belos e coerentes que já vi em um LP. O feitiço do titulo, na realidade, é mais uma comemoração do ódio pela humanidade do que qualquer outra coisa, pois a banda exibe suas melhores melodias se intercalando com momentos como na faixa "I see no civilization", quando o multi-instrumentista Chris Crigg (que compôs e realizou todo o álbum sozinho - um feito fantástico, tendo em vista o quanto o som é dinâmico e esmagador, não parecendo em nada com as outras "one-man bands “ que eu conheço) grita o titulo da canção logo antes de uma linha de guitarra absurdamente grudenta.

Depois da épica abertura , "Solitude", que começa com notas melancólicas e que em um dado momento explode em pura furia, "A Spell..." não se torna repetitivo em momento algum. Riffs que poderiam ter saído facilmente de álbuns de black metal do inicio dos anos 90 se misturam com algumas sensibilidades do hardcore e do crust punk, mas nada muito aparente, já que o próprio black metal carrega uma herança do punk rock. A produção é limpa para o gênero, com bastante ênfase na bateria, que parece ser o instrumento dominante do músico, tamanha a furia que ele demonstra nas baquetas (coisa que me lembra outro projeto solo americano de black metal, Panopticon - mas aqui as baterias não estão em primeiríssimo plano como nesta).

Diferentemente da maioria das bandas de black metal, as letras de Chris são mais pessoais, deixando ainda mais aparente influencias externas ao gênero. A faixa "Condemned As Prey" começa com o som de guitarras e gritos, que dizem "Sorrow chokes the air and fills the lungs with such noxious fumes", brilhantemente mostrando o clima angustiante, ansioso e rancoroso da obra, mas não exatamente pessimista, numa letra que fala sobre a onipresença da tristeza no mundo, e como devemos ver isso com bons olhos, pois, segundo a letra (e parafraseando), "a serenidade é uma ameaça que nos lança sobre verdades rasas". O álbum, por inteiro, é uma ode ao desapontamento com a humanidade.

Desde as primeiras ouvidas, "A Spell To The Death Of Man" já se tornou um dos meus álbuns favoritos no gênero, pois é um daqueles registros que são tão bem construídos, cada musica com uma identidade bem dilapidada, e que nos faz descobrir algo novo sempre que ouvimos, mesmo não sendo complexo. E, acima de tudo, é profundamente honesto. É de uma franqueza que me causa uma sensação estranhamente calorosa no peito, é como aquele amigo que acena com a cabeça em concordância com aquele seu comentário de teor misantropo, quase ingênuo. Gosto especialmente de ouvi-lo em viagens de transporte público, porque é quase como se eu ... não visse civilização.

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